quarta-feira, 21 de setembro de 2016

O Pará não é queijo para ser dividido pelos ratos


Nos últimos dias, ouvimos falar muito sobre a divisão do Estado do Pará, um Estado que tão bem acolheu e acolhe pessoas de tantos lugares do Brasil. Ligamos a TV, o rádio, navegamos na internet, e percebemos alguma matéria sobre o tão acelerado processo de plebiscito ( fazemos questão de lembrar que em suas raízes, plebiscito não só traduz o voto do povo por sim ou não, como também sinaliza a sua vontade ), que tantos filhos de outras terras querem  concluir.
Tenta-se mostrar ao povo deste Estado que ele não é viável por causa da grande extensão territorial. Alega-se que regiões distantes de Belém, a capital, são historicamente pobres desde os períodos mais remotos, épocas das antigas províncias que muito mudaram como tentativas de partilha do poder, quando meia dúzia de “xeretas” pretendiam muito mais que divisão territorial, mas sim a fragmentação do poder que geraria uma “lambança” do dinheiro público. Mudanças que transformaram definitivamente as fronteiras físicas do nosso querido Estado, mas que não conseguiram aplacar a sede de políticos que, se quer são paraenses, por dinheiro e recursos do governo. Em virtude disso, parlamentares puseram em discussão a legitimidade do projeto de criação dos novos Estados do Tapajós, Carajás e Pará. Este, muito provavelmente, ficaria com a região mais populosa do atual Estado (cerca de 60% do número atual), mas com pouca participação nas riquezas minerais e hídricas do Sul, Sudoeste e Oeste paraense.
Afinal, o que querem estes políticos que não conhecem a realidade de nosso Estado? Eles, que tão pouco sabem sobre os anseios e desejos do nosso povo, muito menos sabem o que realmente os paraenses pensam e sentem em relação a divisão territorial. Por que dividí-lo?
Saudosos são os discursos do Padre Antonio Vieira que em outros tempos, magnificamente soube como ninguém, rechaçar intrusos da nossa terra amada, assim fez com holandeses e espanhóis. Ele fez de suas palavras uma arma contra àqueles que tentavam repartir o que já pertencia ao caboclo, índio, ribeirinho, aos negros da terra, por direito natural, a terra.
Prezados políticos sem terra-natal (é o que muito parece, pessoas sem um lugar para chamar de minha terra), deixem nosso Estado nas mãos daqueles que realmente pertencem à esta terra, que fazem parte dos lugares dentro desse imensa terra que tanto amamos. Sabemos que nosso Território é grande por natureza, com aproximadamente 7 milhões e meio de habitantes que não merecem ser divididos por questões tão óbvias como o uso e a apropriação de recursos públicos (verbas), “puxar dinheiro com o rodo” e intensificar o leva-e-traz de dinheiro na cueca. Criar dois novos Estados seria como um parto de bebês prematuros. Eles nasceriam sem condições adequadas de sobrevivência. Especialistas do IPEA declararam que os dois novos Estados, Tapajós e Carajás, custariam cerca de 2 bilhões e 1,1 bilhão de reais cada um, respectivamente, um rombo nos cofres públicos.
Vejam outros exemplos de Estados brasileiros, frutos de divisão, que têm regiões tão ou mais pobres quanto as que existem no Pará. Um dos casos é o Estado de Alagoas, no semi-árido brasileiro, que possui regiões que não conhecemos fisicamente, assim como, as que os criadores do projeto de divisão não conhecem em nosso Estado. São regiões pobres dentro do Nordeste, onde pessoas vivem em condições de pobreza extrema, assim como algumas áreas metropolitanas de Brasília, São Paulo e até mesmo Belém, o que muito comprova que a solução não é dividir o que é mínimo ou máximo, grande ou pequeno. A solução é gerir melhor os recursos em cada região ou Estado. Nada de dividir, confundir, subtrair...
Somos um Estado/Cultura, Estado/vida, Estado/Nação, capaz de receber bem quem quer que seja. Um bom exemplo do que falamos é Paragominas, fruto de tantas lutas de pioneiros como Célio Miranda e tantos outros. Esta cidade viveu anos de austeridade, mas, hoje, vive e comemora suas glórias em muitos setores sociais. Muito embora, haja tanta riqueza, a cidade também tem seus “Oestes” carentes da presença do poder público. O que fazer, dividir? Não! O que precisa ser feito é aproximar estas áreas às boas práticas políticas e sociais realizadas em tantas outras áreas da cidade. Só assim, serão minimizados problemas seculares do oeste e sul deste Estado, que afligem populações inteiras que reclamam à presença do poder público, mesmo assim, acreditamos que a solução esteja em uma administração melhor dos recursos gerados pelo próprio Estado e Governo Federal. Queremos nosso Estado unido para enfrentar seus inúmeros percalços, como os políticos sem terra-natal (ratos querendo dividir o queijo), entraves que refletem a ganância, ignorância e injustiça que cegam o nosso povo.

 Janeiro de 2011.

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